Clarice Lispector, para mim, surpreendentemente talentosa, é uma das grandes escritoras brasileiras. Leio, simultaneamente, dois livros dela: Um sopro de vida e Aprendendo a Viver, ambos da editora Rocco. Inicia Um sopro de vida, na primeira página, afirmando: “viver é uma espécie de loucura que a vida faz”, e adiante, arremata: “Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Perigo de mexer no que está oculto“ “Viver é mágico e inteiramente inexplicável“.
Mulher além de seu tempo. Morre aos cinquenta e sete anos, em 1977. Simples e sofisticada. Enigmática e transparente. Buscava, na escrita, através de seus personagens, compreender a vida e o mistério do existir. Certa vez, sobre si mesma falou: “Não sou importante, sou uma pessoa comum que quer o anonimato. Detesto dar entrevistas. Ora essa, sou uma mulher simples e um pouquinho sofisticada. Misto de camponesa e de estrela do céu“.
Escrevia buscando decifrar o mistério de si mesma: “O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio” e “sou tão misteriosa que não me entendo”.
Clarice, dentro do enfrentamento consigo própria, revelava, em processo de busca total, o mundo oculto, e trazia à tona o inexplicável sentido da existência.
Gosto dos livros de Clarice Lispector porque vemos, na engenhosidade de seus escritos, através da revelação dos personagens, o mais recôndito da natureza humana.
Como Clarice veria o mundo atual, em que o ser humano, fugindo de si próprio, continua sendo ele,na fragilidade incontida do humano, do mesquinho, do miserável,como também, revelando-se pela arte e espiritualidade.
Como Clarice observaria a era da tecnologia desumanizando o existir? Como enxergaria o não pensar ou o pensar vazio? Acredito que ela olharia não com desprezo, mas, na simplicidade de um sorriso, acharia tudo natural e diria para si mesma este é o ser humano em processo permanente de incompreensão de si próprio.
Clarice, no mundo atual, não se surpreenderia com nada, seria, ainda, mais intensa, mais estrela do céu, mais camponesa, e mais profunda, buscando entender a contradição humana e o mistério da existência.
Em Aprendendo a Viver, Clarice, assume uma clareza e uma simplicidade encantadora, quando diz: “Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime; às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna”. Clarice foi densamente ela em transparência total.
Escrever é prazeroso e, também, doloroso. A arte é bela. Por isto leio Clarice. Sei, e já o reli, que o livro A hora da Estrela, o mais lido, é o mais desejado. Porém gosto de todos, porque são reveladores da arte e da grandeza e pequenez humana.
Depois de escrever esta crônica vou ler de Oscar Wilde, em pleno domingo de Carnaval, o Retrato de Dorian Gray e, em seguida, de Carlito Lima, escritor alagoano, Marina Butterfly. Sim, preciso lê-los para intensamente admirar a arte. O único objetivo da arte é ser permanentemente admirada. Não há outro.
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